sábado, 19 de setembro de 2009

Mulheres "complicadas"

Síndrome de Estocolmo, em defesa das mulheres difíceis
Atualizado em 19 de setembro de 2009 às 10:49 Publicado em 18 de setembro de 2009 às 22:09
de um post antigo do blog Síndrome de Estocolmo, que só descobri agora
A primeira vez que pensei em escrever sobre as “mulheres difíceis” foi na época da eleição da Marta Suplicy, quando ela estava sendo triturada por ser uma mulher “difícil”, autoritária. Cheguei até a prometer esse post aqui.Hoje, vendo Mike Tyson afirmar que não iria mais lutar, achei tão melancólico, tão derrotado pelo sistema perverso que o criou… que lembrei do quanto simpatizo com “pessoas difíceis”. Homens ou mulheres. E achei que era a hora de compartilhar essas reflexões com vocês.Da mesma forma que é fácil ser bonita. Acreditem, é muito mais fácil ser boazinha, contida, equilibrada. Também gosto muito de pessoas assim, claro, mas elas passam pela vida com uma vantagem, por isso simpatizo tanto com as intensas e descontroladas.Durante muitos anos quis ser uma dessas moças que têm a cabeça no lugar, sabem o que querem, não desistem de nada e só dizem a coisa certa na hora certa. Quando casei, pela primeira vez, tinha 20 anos, meu marido 34. Eu, claro, era imatura, insegura e bem maluquinha. Pra que meu marido (que eu adorava) gostasse ainda mais de mim, cismei de virar “adulta” de qualquer jeito.Comprei uns taillers, uma pastas de executiva, uma caixa de cigarro Charm. Tentei parar de rir demais, tentei ser mais “circunspecta”. Não durou 15 dias. Nunca aprendi a tragar, me sentia ridícula nas roupas e o que é mais importante, por dentro, continuei sendo a mesma pessoa e não convenci ninguém. Desisti da imagem e assumi a minha loucura.Nunca fui fácil, como muita gente na blogosfera já percebeu. Por isso simpatizo com mulheres diíficeis, que amam demais, que falam tudo que pensam, que não medem as consequências, como Pagu, Hilda Hilst, Frida Kahlo, Camille Claudel, Elis Regina, Courtney Love e até a Daniela Cicarelli.Sim, querid@s, pasmem, mas eu acho que fui uma das únicas (senão a única) que sempre viu a Daniela com outros olhos. A Daniela é uma de nós. Você pode ver isso nos olhos dela, quando ela fala. Ela tinha o que todo mundo acha que é “tudo” e jogou pro alto por causa de um gênio danado.Morri de rir da cena que ela fez no “casamento”, botando a outra pra fora. Li em vários jornais e revistas jornalistas analisando o quanto foi pior pra Daniela ter se exposto tanto etc. E eu aqui só rindo… pra nós, mulheres difíceis, não existe isso. Ela fez a única coisa que conseguiria fazer. O que tava na cabeça dela naquela hora, sem pensar nas consequências.Depois, ela larga o Ronaldo e já está grudada, publicamente, em outro, contrariando todas as regras de bom senso. A empresária dá um chilique. Mas isso é a Daniela e eu acho muito mais interessante (e real, vivo) do que uma Gabriela Duarte da vida, que me dá arrepios e náuseas só de ver abrindo aquela boquinha contida de moça séria. Claro que não estou colocando a pobre Daniela no nível das outras citadas acima, mas ela é, sim, uma de nós, acreditem…Quanto à Marta Suplicy, é outra história. Ela não é descontrolada. Ela é um outro tipo de mulher difícil. Aquela que é fria nos seus propósitos e faz o que quer. É o que os americanos chamam de “bitch”.Eu adoro “bitches”. Posso ter outras críticas a Marta, nunca essa. A Marta intimida porque os homens (e muitas mulheres) não estão – ainda – acostumados a mulheres poderosas. Então, o mais fácil é desqualificar tudo nela que seria elogio, se ela fosse um homem.Aliás, ridicularizar e chamar de loucas as mulheres com personalidade, poderosas e sábias não é novidade. Muitas mulheres queimaram na fogueira, literalmente, por causa disso.Há algum tempo, li um livrinho interessante, e que aconselho a todo mundo que puder ler em inglês, chamado Bitch – In Praise of Difficult Women” (algo como “em homenagem às mulheres difíceis). Quando vi na livraria, pensei que era feito pra mim.A autora, jornalista da “Rolling Stones”, fala sobre mulheres como Sylvia Plath, Elisabeth Taylor, Simone du Beauvoir, Dalila (de Sansão), Patti Smith e outras que não se comportam como a sociedade espera que se comportem. A autora explora a força criativa dessas mulheres e a importância que elas têm pra abrir espaço para as boazinhas.Houve uma época em que se falava muito de “inteligência emocional”. lembram? e eu tive uma conversa com uma amiga, a uruguaia Cecilia sobre isso. Eu dizia que se todos nós nos educássemos para desenvolver essa tal “intelgência emocional”, onde estariam os Leonardo da Vinci, as Frida Kahlo e os Charles Bukowski da vida? ficaria tudo muito chato… pra mim, nem pensar… prefiro cultivar meu caos emocional…Eu tenho muito mais medo das contidas e que medem suas palavras. Essas são métodicas e podem ser perigosas (nem todas são, claro!). As que falam o que pensam só fazem marola, barulho, mas, geralmente, não fazem mal a ninguém, só a elas mesmas.Atualmente ando mais “calma”. Pois é, queridas mulheres difíceis, podem acreditar que até nós ficamos um pouco mais boazinhas com o tempo.Não se confiem muito na aparência, não… fora dessa minha área afetiva, sou caótica, desorganizada e descontrolada…Nós, mulheres difíceis, incomodamos porque saímos da rota esperada, porque somos imprevisíveis e contraditórias. Porque as pessoas não sabem lidar com o que não é “normal”. Mas é exatamente isso que nos faz mulheres tão interessantes ;)Por isso, defendo até o fim o direito de todas as “mulheres difíceis” serem o que são e continuarem botando fogo nesse mundo...

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